Maria Dusá
(GARIMPEIROS)
Romance de costumes sertanejos e chapadistas
I
Abria-se para o nascente o velho casarão da
As dimensões da morada, e, mais que isso, o amplo Hotel Alpina na cidade de Mucugê – BA.
No entanto, ao aproximar-se um pouco, o viajante arguto, lido ou corrido, mal continha uma interjetiva de desilusão, porque, em realidade, os listrões vermelhos de goteiras que lavaram o Disponível em: psassunapontadalingua.blogspot.com201512museu-do-sertao-mossoro.html
Ao encontrar-se com o velho Raymundo Alves, ou com a quinquagenária Maria Rosa, sua mulher, os vizinhos, conhecidos velhos, talvez por um impulso de compaixão para com os herdeiros de uma das melhores fortunas do sertão em princípios do século passado, tratavam-no por senhor Raimundo e cortejavam-na com o tratamento de dona. Era isso também uma espécie de caridade que eles agradeciam com um sorriso desconsolado, sem, contudo, esquecerem jamais os modos altivos e os tiques de ricaços de outros tempos.
Teve esse casal quatro filhas e dois filhos. Como os pais, viviam quatro restantes, em ociosidade, cobertos de andrajos, morrendo à fome. A
Apenas duas moças faziam Diponível em crab.sebrae.com.brestado_postsrenda-de-bilros.
Uma tarde, a velha assistia, no peitoril, ao trabalho de rendas das duas filhas, enquanto o filho João e a outra moça arrancavam, na catinga, raízes de umbu, para o
— Seu Raymundo, boas-novas! Aí vem uma tropa!
— Levanta, homem! Cria coragem!
Estremunhado, assim, do sono doentio de faminto, o velho abriu os olhos vagarosamente. A mulher insistia baixando a voz, porque soava já no terreiro a estropiada do primeiro
— Levanta, homem!
— Ó de casa! – Brada no peitoril uma voz forte, de homem, enquanto retiniam chinelas sobre os tijolos estragados.
O velho fez um esforço, sentou-se no Disponível em: www.oficinacenarioleiloes.com.brpeca.aspID=14161981.
— Ó de fora!
O arrieiro estava impaciente, porque mal ouviu a resposta perguntou:
— Pode-se arranchar aqui? tem cômodo pra os animais?
Não suportando mais a moleza do marido, a velha saiu e, depois de dar e receber as boas tardes, respondeu:
— Arranchar, pode; cômodo, só
O arrieiro, um rapagão moreno, de uns vinte e cinco anos, fez um – Assim! – gemido e acompanhado de um gesto de contrariedade, e, voltando-se para os camaradas, gritou em voz de comando, enquanto desatava as esporas:
— Derruba!
E, obedecendo ao seu próprio mando, saltou do peitoril, já sem chinelas, levantando burros deitados, desarrochando-os rapidamente e atirando os
Chegaram os dois lotes restantes.
Era a hora do trabalho árduo do tropeiro, principalmente quando a tropa está puxada ou batida, isto é, magra, fatigada de longas jornadas. Hora de aperto em que o tropeiro, prático no ofício, não distrai a atenção para coisa alguma, porque, à tarde, o animal, carregado, pode caminhar mais uma hora; porém, parando no pouso, suporta, de pé, um minuto.
Assim, toda a demora é nociva, não só porque o burro de tropa facilmente adquire a manha de deitar-se, (e, nesse caso, é preciso levantá-lo, pois se lhe tirarem uma vez a carga, deitado, apanha também esse sestro), como porque, no levantar-se, pode
Por isso, conhecedor e prático da vida de tropeiro, o velho Raymundo, parando no peitoril, assistia, impassível, ao serviço bem feito, e esperava, com paciência, que o terminassem, para saudar e receber as saudações do costume, entre sertanejos, enquanto, pelas frestas das portas e das janelas, olhares tristes e cobiçosos miravam os Disponível em: psassunapontadalingua.blogspot.com201512museu-do-sertao-mossoro.html.
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— Se não havia alguma roça a alugar, para que a tropa não ficasse campo fora.
O velho retribuiu a saudação e respondeu desculpando-se com a sua extrema pobreza e a seca, pior que a de
Quanto aos camaradas, continuavam na Disponível em: www.du-ze.compeca.aspID=8043704.
Ao lusco-fusco, depois de beber a água minguada e
O mineiro tinha armado a rede no peitoril, recusando a sala ou a varanda, por causa do calor.
Foi uma noite de fartura e de folgança para a ditosa família Alves. Além de partilharem todos da gorda ceia de arroz com carne (o antigo locro, que os
II
Sol alto, a tropa
— É como digo: por menos de cinco
— Ah! seu Ricardo, interrompeu o velho, nós estamos perguntando por perguntar. Como já disse, tivemos criação e dinheiro, mas hoje não temos nada. Se sua mercê der um celamim por
— Na verdade! comentou o mineiro, sorvendo após uma fumaça do
— E todo o mundo destas beiradas! Acrescentou o velho, pondo a prumo a cabeça, que se assemelhava à de um esqueleto.
— E por que não vão para as Lavras? Inquiriu o mineiro; lá está tudo caro, mas ainda não se come raiz de pau.
— Que é da força pra caminhar, meu senhor?! Atalhou a velha; e ainda para sustentar uma porção de gente que só tem pele e osso?! Sua mercê quer ver?
E a mulher, com cara de fúria, gritou em voz esganiçada:
— Ó João, chama tuas irmãs!
Apareceu um rapazinho de uns 14 anos, coberto de trapos que foram camisa e calções, muito sujos, predominando a cor vermelha da terra que habitava.
— Chama tuas irmãs! repetiu a mulher que armava assim uma cena de efeito para obter alguma esmola.
Em alguns momentos surdiu à porta da varanda um grupo de três moças, parecendo ter 15 anos a mais nova.
E essa mãe, a quem a fome tirara certamente todo o amor maternal e todo o pudor feminil, se é que em tempo algum o teve realmente, levantava, sacrilegamente, os trapos que cobriam os ombros e seios e essas pobres criaturas, para que o mineiro, certificando-se de sua miséria, pela magreza extrema de suas filhas, se compadecesse ao mesmo tempo. Ao aproximar-se, porém, da mais velha, que poderia contar 18 anos, esta recuou um passo. Apesar da fome, corava e reagia.
— Ó xente, Maria!! que é que tem o homem ver tua magreza?!
Duas lágrimas brotaram dos olhos da moça que sentou-se no pavimento, apoiando a cabeça sobre os joelhos.
— Menina tola! Quem tem vergonha morre de fome!
No terreiro, ao longe, Pingo d’Água começou a cantar em dueto com um companheiro, enquanto descansavam o almoço.
— Deixe a moça, Dona, disse o mineiro penalizado.
— Levanta a cabeça, Maria! Insistia a velha, com o olhar chispando de ódio e, fingindo um sorriso, acrescentou, como gracejando: — Ele quer te levar; tu queres ir?
E, ao mesmo tempo, fingindo uma ameaça que, entretanto, exprimia sua verdadeira intenção, afirmou:
— Se ele desse um celamim de sal, bem que eu te dava para cozinhar na casa dele.
— É que nem isso ela vale, obtemperou o velho, interrompendo um cochilo.
O mineiro, de cabeça baixa, pitava, em silêncio, meditando sem dúvida nas aberrações possíveis da natureza humana, e no que, a esse respeito, tinha visto, desde criança, em suas viagens.
Ao levantar a cabeça, deu com o olhar na moça. Notou, então, que, apesar da magreza, Maria conservava uns tons de beleza, apenas esmaecidos pela fome. Os olhos negros e grandes pareciam, nesse momento, refletir um braseiro; o rosto moreno, emoldurando-se pelos cabelos lisos e corredios que se desgrenhavam nos ombros, patenteava longo martírio. Não inspirava sensualidade, porém amor e compaixão.
— Pronto, patrão! Disse um dos camaradas.
— Carrega! Ordenou Ricardo, em voz pausada, voltando-se para o camarada.
— E sua mercê tinha coragem de dar um celamim de sal pela Maria? interrogou o velho Raymundo, em tom de
— Até mais, se não fosse pecado e crime comprar gente forra, respondeu o mineiro, supondo que o velho gracejava:
— Estou falando sério, asseverou o velho; sua mercê não sabe o que é comer palmito sem sal, por necessidade.
— Compro, disse o mineiro, tornando-se vermelho.
— Está dito, bradou a velha, apanhando num torno da varanda uma
O mineiro gritou ao cuca e mandou trazer um celamim de sal, um
Marido e mulher não sabiam de que modo exprimiriam seu contentamento e gratidão. O mineiro é que não contava com semelhante gratidão. Num
Arrochando os últimos animais do seu lote dianteiro, Pingo d’Água cantava propositadamente:
Nesse mundão tenho visto!
Mas aqui já é sofrê! Aqui é que filho chora,
Filho chora e mãe não vê!
Ao atar à corda do fumeiro, a velha resmungava, respondendo ao trovista, como se pudesse ser ouvida:
— Vê, sim;
No peitoril, o Raymundo, numa espécie de delírio, esfregava as mãos de contente, e de olhos fechados,
As duas irmãs de Maria tinham-se retirado, chorando.
Então, dirigindo-se à vendida, que soluçava convulsivamente, o mineiro falou:
— Não chore, não, moça; seus pais venderam a filha, mas a filha não foi comprada: fica aí, com eles; somente lembre-se que o mineiro se chama Ricardo Brandão. Aqui está mais uma lembrança, que eu destinava a uma irmã.
E assim dizendo, tirou da escarcela uma pequena medalha de prata e a entregou com mão trêmula. A moça recebeu a lembrança e disse por entre soluços:
— Deus ajude a vosmecê, e lhe dê feliz viagem!
Partia o lote dianteiro. Depois de rasgada cortesia com o chapéu de couro, e um
Guardo o mimo que me deste
Na hora da retirada:
Quem paga amor com firmeza
Não fica devendo nada!
O velho Raymundo mal voltara a si da surpresa. Nos seus tempos de miséria, não tinha visto generosidade igual. Disse, por fim, desenvolvendo a elevada estatura e acenando com os compridos braços esqueléticos:
— Pois, senhor Ricardo Brandão, aqui fica este velho, que, se não morrer, ainda pode servir pra botar seu animal no pasto, quando sua mercê passar por aqui outra vez.
Depois de uma pequena pausa, murmurou:
— É verdade! bem se diz que o mineiro tem o coração nas mãos!
Ricardo mordia a ponta do cigarro, olhando para os dois lotes que partiam.
Restava o da cozinha, sempre mais retardatário.
O velho abanava a cabeça. Ao ver assomar à porta sua mulher, disse:
— Sinhá Maria Rosa, pois o mineiro é bom mesmo.
— Pois não deixou ficar a Maria?
— Ué!… pois não leva, não? Interrogou a velha sem ocultar seu desapontamento.
— Não, sinhá Maria!
— Deus é que o há de ajudar! Deus é que o há de ajudar! repetia a velha com esforço, porque sua intenção era desobrigar-se de sustentar a filha.
Partia o Disponível em: www.oswaldt.com.br/serigote-boiadeiro.
Adiante, voltou-se; Maria enxugava os olhos, debruçada no peitoril. O mineiro parecia fascinado. Mais longe ouviu Pingo d’Água cantando:
Meu beija-flor da campina.
Que tiveste o teu condão:
Leva no bico a saudade
Ao bem do meu coração.
O sol, a essa hora, calcinava a estrada poeirenta da catinga. Os animais turravam e gemiam por desafogo.
III
Poucos, da atual geração de baianos, desconhecem, pelo menos de tradição, o que foi, para o povo sertanejo, o ano de 1860. De quantas secas periódicas têm devastado os sertões brasileiros, raras legaram tão horrível memória, como a geralmente conhecida por seca de 60, aliás 59, de que resultou a crise alimentícia denominada fome de 60.
Na crença dos adoradores de um Deus que pune e premeia, nunca se revelou mais evidente e punitivo o seu braço irado e inexorável.
Nesse ano de tristíssimas recordações a
Em grandes extensões de terreno não se vislumbrava sinal de clorofila senão no Icó, a planta que resiste a todas as secas, e nas diversas espécies de cactos, entre as quais sobressaíam o Disponível em: www.naturezabela.com.br.
A catinga (mato esbranquiçado) justificava de modo perfeito a denominação tupi, dada a essa vegetação enfezada.
Para cúmulo da penúria vegetal e animal, os incêndios multiplicavam-se nos campos e carrascos. Propósito ou descuido de caminhante ou caçador, o fogo fortalecia a ação destruidora do sol.
No céu, nenhum sinal promissor de chuva, e já ia em meio o ano.
Como sucede nos anos secos, nuvens tênues e esgarçadas passavam alto, muito alto, em diversas direções, como se evitassem baixar sobre a terra maldita.
Já não tinha encantos o alvorecer nas terras sertanejas. Um silêncio pesado substituíra a ruidosa alegria do passaredo farto, a saltitar em meio da verdura primaveril doutros tempos.
Os arrebóis vespertinos aparentavam apenas a beleza trágica de quotidianos incêndios em vastas e longínquas regiões do ocidente.
De resto, o céu em fogo dizia bem com o alvejar das ossadas dispersas pelos campos desolados.
As fazendas mais abastadas estavam quase desertas. Dificilmente se ouvia um mugido, mesmo tristonho e cavernoso. Mais de um fazendeiro rico
Pequenos lavradores e criadores, transformados em
Nas estradas, de espaço a espaço, encontravam-se quadros vivos da mais completa consternação. Aqui, um velho, cercado de filhos e netos famintos, num cirro interminável de durar dias e dias; ali, um desventurado pedindo pelo amor de Deus um punhado de farinha para que o filho pudesse morrer; adiante a figura esquelética doutra
Viajando no
Tendo arribado do pouso do Raymundo Alves, o mineiro mandou derrubar no
Junto à casa de um velho africano, derrubaram-se as cargas.
Feito o rancho, isto é, arrumadas em dupla fileira as bruacas e surrões de sal, sobrepostas as cangalhas, — peitoral para a frente, a fim de se não atrasar a viagem, — aceso o fogo e armada a
O sol estava a cravar-se.
Ricardo Brandão dirigiu-se ao velho africano, que tecia esteiras de Disponível em: commons.wikimedia.org.
— Se não havia pasto, perto ou longe.
— Passo qui é, sinhô?! Exclamou o preto admirado. Passo é esse qui sinhô tá veno: foia seca só. Agora, si sinhô qué qui burro come de nôte manda gente derrubá mandacaru. Munto bom; boi gosta munto.
O mineiro riu da estultícia do conselho, e insistiu:
— Mesmo longe não haveria alguma roça velha, encapoeirada?
— A roça qui é, ioiô? Perguntou o africano, com cara de riso. Pai Tomé veio moleque pra terra de branco, e nunca viu coisa assim. Ah! ioiô! Deus brigou com nós tudo! A roça aqui, nem longe nem perto; nem véia, nem nova. Ué!
E continuou a trabalhar.
O mineiro decidiu-se a mandar arrumar num eixo de serra, que se via a certa distância, e para abreviar foi ajudando a
Parou. Com a curiosidade de saber para que fim, aproximou-se, e depois das boas tardes, perguntou:
— Você procura água nesse duro, amigo? O sertanejo levantou a cabeça:
— Não, patrão; estou fazendo uma cova para meu filho que morreu.
Olhe ali. Era um menino que fazia gosto ver! Vivo como ele só!
O mineiro olhou e viu uma mulher sentada junto a um murundu, tendo no regaço o cadáver dum menino.
Depois de um longo suspiro, o sertanejo acrescentou em voz queixosa:
— A fome, patrão! A fome é que faz tudo isso!
— E o menino morreu de fome? Inquiriu o mineiro.
— Morreu, sim senhor! Disse o sertanejo, e acrescentou: — como muita gente tem morrido por este sertão de meu Deus! Até pai já tem matado filho pra comer! Perto daqui mesmo, dizem, eu mesmo não sei, dizem que um velho Raymundo (pode ser que sua mercê tenha dormido na casa dele), que esse velho Raimundo já matou dois.
O mineiro sentiu apertar-se-lhe o coração. Ligeiro calafrio cortou-lhe a espinha dorsal.
— Que é que está dizendo: homem?! Exclamou, sem dominar-se.
— Não sei, patrão; o povo é que diz. E parece que é assim mesmo porque ninguém sabe rumo dum que ele disse que se perdeu no mato, há uns dias.
Rápida associação de ideias fez esfriarem as mãos do mineiro. Somente agora lhe causava estranheza que o velho Raymundo tanto insistisse para trocar uma filha por um celamim de sal, em vez de o fazer por um pedaço de carne, quando por não tê-la se queixava.
Pensou em Maria, e o coração doeu-lhe deveras.
Não quis, em todo o caso, revelar o negócio do sal.
Não se confessaria ingênuo ou cúmplice involuntário de uma tal monstruosidade.
— Vender filho, continuou o sertanejo, isso é coisa que se vê todos os dias.
— Na verdade! Comentou o mineiro, baixando a cabeça, pensativo.
— Ah! Patrão de minh’alma! Exclamou o sertanejo, parando a escavação, têm se visto coisas com esta fome! Saí da terra dos meus, cidade de Caetité, e lá, e nos caminhos tenho visto! Patrão! — Bradou o retirante com amargura, — o Deus que nos protegia morreu ou mudou-se!
A enxada caiu de novo, cavando fundo, enquanto pela face do sertanejo duas lágrimas desciam vagarosamente.
Houve pequena pausa, durante a qual só se ouvia o tum, tum, abafado, da enxada na cova.
— Nós, João, não devemos agravar a Deus; antes sofrer com paciência! Disse, sufocando os soluços, a mulher, cujo rosto, oculto pelo xale, não pôde o mineiro observar.
O sertanejo não respondeu. Enterrando mais o chapéu de couro na cabeça, e cerrando os
Ricardo interrompeu o doloroso silêncio.
— E daqui para onde você vai, sôr João?
— Eu mesmo nem sei, patrão. Daqui, talvez pra beira-mar. Tenho vontade de tentar a sorte na
— Pois é bom ir. Eu pra lá vou vender um salzinho. Se for bom deveras, fico.
— Daí, pode ser que eu vá, obtemperou o João. Só tenho medo de ser um lugar, onde ainda se mata gente por vadiação.
— Não é mais assim, não. Isso foi no princípio, quando um sujeito, pra comprar uma Disponível em: www.antiguidadesdomestre.com.br.
Em todo o caso, não há como a gente andar prevenido.
Houve novo silêncio.
Caía a noite. O sertanejo tomou o cadáver do filho, envolto em trapos, e o depositou na cova com o mesmo cuidado como se o fizesse numa cama. Em obediência à superstição, Ricardo lançou na cova um
Dirigindo-se para o rancho, o mineiro pensava em Maria. Se tinha razão o povo, e dizia coisa certa, o pai desnaturado seria capaz de matá-la também.
Não era, entretanto, só o sentimento de compaixão que agora oprimia a alma generosa do mineiro. No seu entender, parecia estar estonteado por uma
Se visse de novo a sertaneja, pensava ele, perderia de todo a cabeça e casar-se-ia com ela. Como devia ser amorosa e boa! No mais, a miséria é que não a deixava parecer mais bonita.
Quando assim meditava o serrano, ouviu um dos seus camaradas, que voltava da arrumação, cantar de voz solta, na toada dolente que os sertanejos conhecem:
Lá vai a garça voando
Lá pra a banda do sertão,
Leva Teresa no bico,
Maria no coração…
Ricardo reconheceu a voz de Pingo d’Água. Este continuou:
Cravo roxo, cravo rosa,
Cravo de toda nação!
Meu benzinho de tão longe…
Ai, meu Deus, não posso, não!
E estribilhava com mais tristeza:
Ai, meu Deus, não posso, não!
O mineiro sentiu que se lhe marejavam os olhos, após ligeiro arrepio dos cabelos, e gritou de longe:
— Cala essa boca, demônio!
Pingo d’Água compreendeu que tinha ferido o patrão e retrucou, incontinente, com vivacidade:
O tronco nasce da terra,
Do tronco rebenta a rama,
Meu patrão não se incomode,
De longe também se ama!
Chegado ao rancho, Ricardo não pôde cear. Tomou apenas um Imagem retirada do site Pixabay.
Pingo d’Água, sentado num couro, à beira do fogo, ralhava na viola.
Ao longe ouviam-se rezas de velório em um rancho de retirantes.
Somente pela madrugada o mineiro adormeceu.
IV
Ao alvorecer, Ricardo estava de pé. Em tempo de verão, é a hora mais aprazível do dia, na região das catingas. O ar fresco e puro, o aroma silvestre e indefinível, que se respira, restituem ao organismo combalido as energias precisas para a labutação quotidiana.
Ao levantar-se o patrão, o cuca trouxe-lhe água para o rosto, e, após, o cuitezinho de café, que ele, como mineiro de gema, sorveu vagarosamente, aos goles poupados, como pratica o experimentador de vinhos. Após o último gole, levantou-se da rede, deixou o Imagem retirada do site Pixabay.
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Dominava o silêncio do ermo. Os camaradas tinham partido a campear, desde as primeiras barras do dia.
Para Ricardo e o cozinheiro, esse silêncio era apenas interrompido pela fervura do caldeirão da feijoada com toucinho e pernil. O mineiro continuava a meditar. Depois de sorver algumas fumaças do cigarro, sentiu certa
Quando os primeiros raios do sol iluminavam as cristas das serras do poente, ouviu-se o som de um cincerro e as conhecidas vibrações do solo, indicando um tropear ao longe. Em poucos momentos ouviram-se assobios e gritos guturais dos camaradas, tangendo a tropa. Ao chegar esta ao rancho, Ricardo notou de um lance d’olhos que faltavam animais.
De fato, os camaradas queixavam-se de que, por não haver pasto, a tropa esparramara na catinga.
— Faltavam Boneca, Rompante, Bem-feito e outros; porém que deviam estar aí mesmo, nalgum encosto da serra.
— Que haviam de aparecer; até a sede ajudava a botá-los pra fora. E depois de tais afirmativas, os tropeiros foram ao café.
Estava em expectativa o que constitui o terror dos viajantes: uma
Ricardo, entretanto, não se mostrava contrariado com essa expectativa; parecia até satisfeito. Dir-se-ia que o acaso vinha favorecer a uma tendência nova de seu espírito, subjugado pela paixão nascente. Segundo afirmou, tempos adiante, nesses momentos tinha ímpetos de voltar, tomar na garupa do Ruão a sua cativa, e associá-la de qualquer modo ao seu destino. Mas esses pensamentos foram passageiros. Aprendera de sua velhinha mãe a respeitar uma donzela, qualquer que fosse o seu estado e condição. Além disso, era sinceramente católico e nos princípios rudimentares de sua religião encontrava sempre uma
Gostava de Maria, porém não podia se casar com ela, e muito menos tê-la por amante. Tinha praticado uma boa ação e não havia de destruir essa lembrança com uma doidice. Ali, era seguir d’olhos fechados o plano velho. Chegar a Chapada Nova, vender o
O sol alteava-se. Ao voltarem os camaradas com a tropa, que tinham levado a beber, Ricardo tornara-se resoluto; dava ordens mais terminantes. Ajudava, com presteza, a milhar os animais, que avançavam famintos, insistentes, com o beiço superior estendido e trêmulo, ora gaguejando uma espécie de rugido gutural, surdo; ora escoiceando-se e mordendo-se uns aos outros, murchando as orelhas, aos pinchos e aos guinchos, que os distribuidores de embornais aquietavam, distribuindo, também, murros a torto e a direito.
É esse constante lidar com animais em viagem o que faz do almocreve ou tropeiro uma entidade particular, um especialista de classe, que se não confunde
com o
O tropeiro tem uma idiossincrasia, uma gíria, um modo, um jeito todo seu, seja para se corresponder com os companheiros, seja para
Assim, até para
Distribuída a ração, o camarada de nome Felippe consultou:
— Hein, Pingo d’Água, você não acha que Boneca e Rompante tomaram por aqueloutro boqueirão que está mais acima?
— Acho. Aquela mula é
— Deixem de consultas, interveio o patrão; Benedito e Joaquim ficam pastorando; vocês dous sigam logo, que os animais estão aí mesmo e ainda hoje se pode fazer
Os camaradas obedeceram e seguiram. Um pouco adiante, Felippe disse ao companheiro:
— Hein, Manuel? Você viu cumo o patrão tem estado
Mais hoje está com a vista mais alegre.
— Eu sei, moço! respondeu Pingo d’Água, e começou a cantar baixo, obrigando Felippe à
O cravo pediu à rosa,
Que lhe desse o seu condão:
A rosa lhe deu espinho,
Mas o cravo não quis, não!
………………………………………….
A viola chora a prima,
A prima chora o bordão…
— O cravo pediu à rosa
Que lhe desse o seu condão!
      Eh! seu condão!…
O eco respondia ao longe nas quebradas da serra, porque, insensivelmente, tinham alteado a voz.
Dentro em pouco os campeadores desapareceram na catinga. Cada um tomou seu rumo.
No rancho, os animais que acabavam de comer milho, e dos quais eram tirados os
Já se fazia sentir o tédio de uma
Passou a hora do almoço manso. O sol despejava uma torrente de fogo. Em longas extensões o calor irradiava-se, como se a terra fosse a abóbada de um imenso forno quente.
Passou a turma de retirantes, que pediam esmolas por todos os santos. Sem molestá-los, Ricardo convenceu-os de que não podia dar o que não era seu.
Passou uma procissão de penitência, em preces
Pela estrada afora o mulherio, aterrorizado com a seca e a fome, carregava pedras, gritando
O mineiro e os camaradas levantaram-se e descobriram-se à passagem da Santa.
A procissão desapareceu ao longe.
Passava a hora do
— Teriam furtado os animais?
Quis ir até ao rancho do africano, para indagar se havia ali tal costume; porém nesse momento aproximava-se o João, o sertanejo com o qual Ricardo travara conhecimento no dia anterior, e que, depois de saudar, falou:
— Hein, meu patrão, com que está sua mercê de
— Era verdade. O
— Não tivesse susto, atalhou o sertanejo. Apesar da fome, o povo dali não furtava. Estava de pouco tempo, mas podia afirmar. Os animais apareceriam.
— Os anjos dissessem amém, respondeu Ricardo, coçando a cabeça, de impaciente.
Não esperou muito. Soou ao longe o prolongado grito do tropeiro, quando encontra o último animal sumido.
— Os anjos tinham dito amém, observou João.
Contente por isso, o mineiro abriu a bruaca da cozinha, cortou bom pedaço de carne, e deu-o ao sertanejo.
— Farinha é que não havia, acrescentou.
O sertanejo expandiu-se em agradecimentos:
— Pudesse contar com ele onde estivesse. Nunca se esqueceria daquela esmola de bom coração. Ia sempre para a Chapada, e lá estaria ao serviço do patrão.
E despediu-se. Decorrido algum tempo, chegaram os animais.
O mineiro desapontou. Estavam finos e varados de sede.
Ordenou que Felippe fosse dar-lhes de beber, enquanto o Manuel atalhava algumas cangalhas de seu lote, que estavam
Determina a superstição dos tropeiros que se não descubram os lotes do rancho sem que estejam vistos todos os animais da tropa, porque o proceder contrário dificulta o aparecimento dos que estejam transviados, obrigando a falhar.
Assim, foi Pingo D’Água o primeiro a tirar de seu lote os couros que estavam tinindo com o calor. Desarrumou as cangalhas, lembrando que o próprio Diabo não quis ser tropeiro para não lidar com couro cru em tempo de sol quente, e, enquanto trabalhava, distraía-se:
Quem parte, parte chorando;
Quem fica vida não tem;
Não tem sono nem sossego,
Quem chegou a querer bem.
O canto era intermeado de socos para acamar ou espalhar a paina do Disponível em: www.modacountrysertaneja.com.br.
Quem tiver cuidados, tenha
Mas nunca procure amar,
Que é pena que puxa pena
Sem nunca mais acabar.
Quem saiu de sua terra,
Se disponha a padecer;
Que a tristeza nunca solta
Quem tem alma pra sofrer.
Concertava com a voz do camarada o ruído causado pelo
Chegou a hora de suspender cargas. — O sol declinava; mas ainda havia tempo de alcançar pouso de melhor arrumação, daí a légua e meia.
Os camaradas almoçaram. Ricardo almoçou pouco. Apesar de seu trabalho pensava, de quando em quando, em Maria, sem, contudo, se perturbar, como a princípio.
O primeiro lote partiu. A cabeçada agitava-se, vibrando com o desânimo peculiar às
Por pior que seja um rancho em que o viajante passou algumas horas, causa- lhe sempre alguma saudade o deixá-lo, porque, ao menos, acode-lhe ao pensamento a dúvida ou possibilidade de o tornar a ver algum dia.
Nessa tarde a tropa
V
Do pouso do Angico, Ricardo continuou a viagem sem tropeços. Em poucos dias atravessou o
Em consequência da viagem, estava quase apagada no espírito do mineiro a lembrança da sertaneja. A sua chegada ao Mucugê obliterou ainda mais essa lembrança.
Não obstante ser filho da província de Minas e, além disso, bastante corrido, habituado, portanto, a lidar em meio de grandes cidades sertanejas, em todo o caso, o burburinho febril do comércio do Mucugê, d’então, tornou-o, na gíria dos tropeiros,
É preciso, em verdade, petulância e presença de espírito, para um homem qualquer enfrentar, de chofre, com calma e sem desaprumar-se, o grande movimento de uma lavra, recentemente descoberta, onde se aglomere uma população de dezenas de milhares de indivíduos, gente de todos os climas, de todas as raças, de todas as condições, e costumes diversos, num vaivém contínuo, numa
Ricardo mandou derrubar na intendência do capitão Joaquim Manuel, o protótipo da honradez, como homem e negociante. O mineiro ouviu, durante a viagem, falar muito nesse homem como homem bom do lugar, no dizer singelo dos sertanejos, que é o mesmo das antigas ordenações do Reino, e, por precaução, estando em terra alheia, dirigiu-se ao capitão Joaquim Manuel.
Precisava de quem o protegesse desinteressadamente, em qualquer emergência, e ninguém se lhe afigurou melhor.
Esse negociante modesto (liberal e monarquista que, nessa época, nem poderia sonhar ter um dia, trinta e três anos depois, um de seus filhos, como governador de um estado republicano)
— Donde vinha? Que trazia de negócio? Inquiriu.
— Era da Serra Nova, Minas, mas vinha de baixo pelo Maracá, donde pretendeu seguir para a casa; mas voltou para a Chapada Nova, porque soube que o sal estava dando, bem como o toicinho. Por isso a tropinha estava tampada de sal e toicinho.
Respondeu-lhe também o bom negociante:
— Que aproveitasse a quadra, realmente boa. Não podia ser melhor. Ele não comprava, porque não tinha mais onde depositar; porém, comprador não faltaria.
Pedindo sua proteção, o mineiro justificou-se, declarando que não tinha conhecimento algum no comércio.
O paciente negociante deu-lhe informações de pessoas e chegou até a indicar-lhe um alugador de
Deu-lhe conselhos para não se afastar do carregamento e do rancho nem se meter em badernas, se acaso gostava disso, porque poderia se arrepender.
Ricardo asseverou sisudamente que não era de badernas, nem na sua própria terra, e, despedindo-se, voltou-se ao rancho.
Nesse mesmo dia, em poucas partidas, dinheiro à vista, vendeu o carregamento, com grande lucro.
Por segurança, logo ao anoitecer deu a guardar, contado e amarrado em bolo, todo o dinheiro ao capitão Joaquim Manuel, e, conforme o seu costume, às 8 horas estava deitado em sua rede, armada a um canto do casarão de meias paredes, denominado intendência, onde estavam hospedados outros
Não dormiu logo, porque entrou a fazer cálculos para a execução do plano traçado, isto é, vender parte da tropa e atirar-se ao garimpo.
Em tais cálculos adormeceu, imitando todos os companheiros de rancharia, no ressonar alto e compassado.
Alta noite, uma tropilha de desocupados
Aproximaram-se alguns, pé ante pé, da em que estava Ricardo; porém o mineiro não se deixou surpreender. Como todos os viajantes de profissão, em geral, tinha o sono leve. Assim, quando o mais avançado quis puxar um couro do lote de sua tropa, ele disse pausadamente:
— Deixe disso, moço. O senhor não sabe com quem brinca. É melhor ir-se embora!
— Eu puxo couro de outros, quanto mais de você, respondeu o desconhecido,
— Terra sem governo! Solta o couro, já lhe disse! Retrucou Ricardo.
Os camaradas acordaram, e procuravam se munir de agulhas de arrocho, às apalpadelas, descompondo os vadios.
O vadio, supondo que esse, como outros bruaqueiros, se limitasse a persegui-lo, atirando agulhas, cobriu a cabeça e as costas com o couro aberto, e correu, arrastando as garras do couro pelas calçadas.
— Espera, diabo, traste! Gritaram a um tempo bruaqueiros e tropeiros, atirando, no rumo,
O sangue, em saída, refluíra ao coração do mineiro, que, como possuído de loucura instantânea, apanhou a pistola de dois canos, e correu no encalço do desconhecido, cujos companheiros corriam adiante, em fileira, fiados no anteparo do couro.
— Espera, desgraçado! Gritou Ricardo, que, não podendo alcançá-lo, fez fogo.
Ouviu-se um grito e o baque do couro. Os outros vadios fugiram covardemente, deixando o companheiro, de borco, na calçada.
Ricardo voltou, caminhando, e, ainda descalço, sentou-se na rede, afrontado, ardendo em cólera.
Algumas portas se abriram, apareceram luzes, ao longe.
Os camaradas, penalizados, rodearam o mineiro, exclamando, comentando:
— Ora, patrão, vosmecê se botar a perder com uma coisa ruim!
— Vosmecê matou o homem deveras!
Diante dessas vozes, Ricardo levantou-se sem saber que devia fazer. Voltava-lhe a reflexão. Tirou-o do estado de perplexidade o conhecido trilo de apito da polícia, e o estrépito de gente que corria dos lados da cadeia velha.
Falou-lhe então, alto, o instinto de liberdade e conservação. Agarrou o casaco de algodão, tingido de lama, enrolou-o na capanga de couro, e, empunhando punhal e pistola, correu por um beco próximo, que dava para o rio Mucugê.
Quando a patrulha chegou, já o mineiro tinha desaparecido na escuridão.
Todos se apressaram em dizer que o criminoso já não estava ali; tinha fugido, ninguém sabia para onde.
O comandante da patrulha agastou-se com tanta inocência:
— Alguém haveria de saber, ou então prenderia todos.
Para aquietar a fúria dos soldados, um, menos discreto, dos tropeiros disse:
— Ora! fugiu por esse beco aí, e se bem andou, já atravessou o rio.
— Olha os sapatos dele ali, acrescentou outro, apontando, à luz do fogo do caldeirão da feijoada, os sapatos do mineiro debaixo da rede.
Assim orientados, os guardas (como então eram chamados) atufaram-se na escuridão do beco, em carreira até à Várzea; porém nada viram nem ouviram. Apenas ninhadas de porcos espantados corriam, soprando e roncando, pela várzea afora. A um soldado pareceu-lhe lobrigar um vulto branco, ao longe, correndo. Por desencargo de consciência, descarregou a pistola que levava em companhia da baioneta. Não se viu mais nada. Após o estampido, que ecoou de quebrada em quebrada, e os estalos do ricochete da bala nas pedras, tudo ficou em silêncio, em relação a vozes e movimentos de gente.
Somente o Mucugê escachoava ruidoso por entre os rochedos e penedias escuras de suas margens e leito.
A patrulha entrou em consultas recíprocas e resolveu-se a voltar à intendência.
Os camaradas de Ricardo não arredaram pé dos lotes.
Ao chegar à rancharia, o comandante da patrulha inquiriu se não tinha companheiros ali o criminoso:
— Que tinha camaradas, foi a resposta de Pingo d’Água, e indicou os quatro, incluindo-se.
— Pois me acompanhem, disse o
— Pra cadeia? Perguntaram a um tempo os camaradas.
— Sim, respondeu um guarda, enquanto o furriel coçava a cabeça, inclinando a barretina sobre os olhos.
— Uai! Exclamou Benedito, como é que o patrão faz um dilito e o camarada vai preso?
— Não. Isso não está direito, não; acrescentou Joaquim.
— E que tem isso? Perguntou o comandante.
— Tem, que eu não vou por bem, nem por mal, porque não fiz dilito nenhum. E comecem com muita conversa, eu grito meu amo, senhor coronel Rocha, e está tudo acabado. O sobrado dele é ali perto, disse Pingo d’Água.
Diante desse nome e da ameaça, o furriel coçou de novo a cabeça e os guardas emudeceram.
— Mas é preciso sempre ir à casa do Sr. subdelegado.
— Está bom, isso a gente vai amanhã, retrucou Pingo d’Água; hoje já é tarde, não tem quem tome conta do rancho. E depois o vadio não teve nada. Um carocinho de chumbo na pele.
O furriel concordou e retirou-se, depois de tomar o nome do patrão e dos camaradas, em direção da casa duma velha Sinhanna, onde soube estar o ferido, um rapazola imberbe, órfão de pai e mãe.
Aí verificou o furriel que realmente não devia incomodar o subdelegado. Apenas quatro
Remédios caseiros foram aplicados e o rapazinho fumava o seu cigarro tranquilamente.
Em todo o caso, no dia seguinte foram ouvidos os camaradas e mais tropeiros, formando-se o corpo de delito. Por mais que as testemunhas do inquérito inocentassem o delinquente, este, na melhor hipótese, teria que pagar a imprudência do seu impulso, com quatro anos de prisão com trabalho, ou mais oito meses de prisão simples, porque ficou bem classificada a tentativa de homicídio.
Entretanto não houve mais novas do mineiro. Essa falta de notícias incomodava ao capitão Joaquim Manuel, por estar de posse do dinheiro de Ricardo, e exposto à probabilidade de comparecer em juízo, o que nada tinha de agradável.
Providenciou, portanto, em segredo, para que fosse encontrado o mineiro, vivo ou morto.
Quanto aos camaradas, mandou chamá-los e aconselhou-os que não abandonassem o rancho.
Somente não pôde dar um jeito em Pingo d’Água, que, à noite, andava já de viola ao peito, cantando em

CRITÉRIOS DE EDIÇÃO
CRITÉRIOS GERAIS DA HIPEREDIÇÃO
Para a elaboração da hiperedição, foram adotados os critérios e princípios estabelecidos por Shillingsburg (1993) e Barreiros (2013), com os acréscimos e adaptações necessários, adequados aos objetivos específicos da pesquisa. Nessa edição, deverão constar, entre outros, os seguintes elementos:
a) A edição interpretativa do texto editado, permitindo níveis de visualização e ampliação da imagem;
b) A transcrição do texto sobre a imagem digital com opção de zoom;
c) A edição para impressão;
d) A edição com hiperlink para visualizar as correções e as variantes textuais em janelas ou tooltips;
e) A barra com o dossiê arquivístico, contendo os paratextos e informações adicionais organizadas em forma de rizoma;
f) Espaço para acessar a descrição paleográfica do texto;
g) Quadro de avisos para informar os acréscimos e correções;
h) A barra com atividades pedagógicas, contendo conteúdo para a formação leitora do literária.
Critérios adotados na edição interpretativa
Para a edição interpretativa do romance Maria Dusá, foram tomados como base o folhetim publicado no Diário de Notícias (1908-1909) e a primeira edição em livro (1910), ambos realizados em vida do autor. A preparação seguiu critérios fundamentados nas normas de Cambraia (2005), com adaptações às particularidades do texto e aos objetivos da pesquisa. Entre os principais procedimentos adotados, destacam-se:
a) Respeitar o seccionamento do texto-base em capítulos, bem como a sua paragrafação;
b) Manter a pontuação original;
c) Manter as palavras destacas em itálico;
d) Atualizar a grafia do texto de acordo com a ortografia vigente, em vigor no Brasil desde 2009, conforme o Decreto nº 6.584/2008. Ressalva-se, entretanto, a manutenção das grafias que reproduzem a modalidade oral da língua, particularmente nos trechos correspondentes à fala das personagens, que serão preservadas tal como aparecem no texto original;
e) Acentuar conforme as normas vigentes, salvo quando se tratar de registros da
oralidade;
f) Antropônimos não serão uniformizados de acordo com a ortografia atual, em virtude de existirem diversas grafias para o mesmo nome. Sendo assim, serão mantidos como no texto de base;
g) Inserir as notas próprias do texto-base (Chardron, 1910) e do texto da Série Bom Livro/Edição Didática (Ática, 1978);
h) Inserir notas explicativas e críticas do filólogo ao pé da página.

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