Quem é Lindolfo Rocha?
Lindolfo Jacinto Rocha é um escritor mineiro nascido em 03 de abril de 1862, na cidade mineira de Grão Mogol, zona de mineração de Minas Gerais, e falecido em 30 de dezembro de 1911.
Filho de Manuel Jacinto Rocha e de Irene Gomes, Lindolfo Rocha viveu no sertão da Bahia quase a totalidade dos seus 49 anos. Entre os seis e oito anos de idade, ao ficar órfão de pai, sua mãe decide partir para o povoado de Xique-Xique de Igatu, na Chapada Diamantina-BA, onde residiam outros parentes. Um menino mestiço, pobre e criado pela mãe, pouco se sabe da sua infância.
Dez anos após a sua partida de Grão-Mongol, têm-se notícias de Lindolfo Rocha em Bom Jesus dos Meiras, hoje cidade de Brumado-BA, em 1880. Posteriormente, mudou-se depois para a cidade de Maracás. Aos 18 anos, garantia o seu próprio sustento e de sua mãe, dando aulas particulares e tocando pistão numa filarmônica local. Sua mãe, Irene, dedicou-se totalmente à sua criação, não se casando novamente e permanecendo na condição de viúva até o final da vida. Começando a progredir em sua formação intelectual, vai a Salvador, capital da Bahia, para prestar exames preparatórios no Ateneu Provincial. Mais tarde, já residindo na Vila d’Areia, hoje Ubaíra, cria o colégio primário São Vicente Ferrer.
Em 1890, matricula-se na Faculdade de Direito, em Recife-PE, recebendo em 1892 o grau de bacharel em Ciências Jurídicas e Sociais. Já diplomado, Lindolfo Rocha lança-se no jornalismo e, pouco mais tarde, é convidado a trabalhar no jornal Diário de Notícias, da Bahia, na cidade de Salvador. A sua permanência física na redação jornalística durou pouco tempo, pois logo é nomeado juiz preparador da Comarca de Correntina – BA, ainda em 1892. Apesar disso, suas contribuições para o jornal Diário de Notícias continuaram constantes, ao ponto que se tornou colaborador efetivo da redação durante dois anos (1910 e 1911), os seus dois últimos anos de vida.
A atuação de Lindolfo Rocha como juiz de Correntina foi breve, não durando nem a metade do tempo previsto (4 anos) para a função assumida. Demitindo-se do cargo em março de 1894, deixa Correntina e parte rumo a Jequié, então distrito de Maracás.
“Em abril [1894] chega a Jequié, que escolhera definitivamente para seu domicílio, em companhia de Irene. Aluga uma casa na Rua da Vitória, que passaria, tempos depois a ter seu nome, como homenagem” (Cerqueira, 1995, p. 70). Estabelecido em Jequié, Lindolfo Rocha amplia suas relações pessoais e seus conhecimentos sobre a região, e passa a desempenhar um papel de destaque no desenvolvimento das questões políticas e burocráticas em favor da emancipação do povoado, como pode ser observado no noticiário publicado pelo jornal Cidade do Salvador, na edição 170 de 1897:
Foi sancionada a lei que elevou o povoado de Jequié à categoria de município. Este fato […] foi revestido de muita solenidade. Empenhado como se achava na consecução deste tentamento, o distinto advogado Dr. Lindolfo Rocha, em deferência à imprensa, que em prol da causa se tinha pronunciado unanime, este dirigiu convites à mesma, para assistir o ato pelo qual o Governador do Estado [Luiz Viana], ia conferir o foral a uma das mais importantes circunscrições do Estado. […] o doutor Lindolfo Rocha, em nome dos habitantes de Jequié, agradeceu ao Sr. Ex. a justiça dispensada àquela povoação tão próspera […] (Cidade Do Salvador, 1897, p. 2).
Junto à emancipação do novo município veio a sua consagração ao receber o título de juiz preparador de Jequié. No auge dos seus 34 anos e, após passar por um período de luto pela morte de sua mãe, Irene, em 1896, Lindolfo Rocha é aconselhado a casar-se com Áurea Augusta de Brito, vinte anos mais nova que ele. Conforme Silva (2023), o casamento de Áurea e Lindolfo fora arranjado por Nestor Ribeiro, cunhado da noiva e grande amigo do noivo, e pela família da jovem que, por sua vez, já estava sendo preparada para ser uma esposa prendada, recatada e de honra familiar, conforme a mentalidade da sociedade da época. O casamento arranjado se realizou, não tiveram filhos e permaneceram juntos até 1911, quando Lindolfo Rocha faleceu.
Embora tenha desempenhado com grande desenvoltura as suas funções políticas e sociais, os seus dias como juiz preparador não foram tão fáceis. Dentre as dificuldades encontradas, precisou enfrentar a ameaça de uma epidemia de varíola em Jequié, bem como intervir e combater o banditismo contra os trabalhadores italianos estabelecidos no município. Em 1902, diante das demandas políticas e dos seus diferentes interesses intelectuais e profissionais, renuncia o cargo de juiz preparador e volta a se dedicar aos trabalhos de advocacia e de literatura, dentre outras atividades de interesse como a agricultura. Ainda, passa a colaborar com outro importante periódico da capital baiana, o Jornal de Notícias.
Entre 1904 e 1906 transfere definitivamente sua residência para a Capital. Alugou uma casa em Mar Grande, ilha próxima à cidade de Salvador, dedicando-se a cuidar dos seus manuscritos já finalizados e dos que ainda estavam em processo de produção. Infelizmente, ali, adquiriu uma forte infecção intestinal, a qual foi se agravando com passar dos dias. Dada a situação, sua esposa Áurea Brito buscou ajuda na capital, internando o marido na casa do amigo e médico Joaquim Reis Magalhães, situada na Freguesia dos Mares, na Calçada do Bonfim. Não havendo melhora, outros dois médicos foram chamados na tentativa de salvá-lo. Todos os esforços foram inúteis. Lindolfo Rocha veio a óbito em 30 de dezembro de 1911, na cidade de Salvador. O seu sepultamento ocorreu no mesmo dia 30, no cemitério da Quinta dos Lázaros (Leão, 1953). Sua morte foi lamentada e repercutida na mídia, de certa forma: “os jornais de Salvador registraram circunstancialmente a perda que a Bahia sofrera com a morte do notável escritor. […] Um mês depois daquela triste madrugada, ninguém mais falou no nome devorado pela morte. A vida continuou” (Bruzzi, 1953, p. 194).